Educação de Itanhaém realiza evento de reflexão sobre o racismo e o orgulho da identidade negra

Um mundo onde as pessoas não sejam discriminadas pela sua cor. Onde as meninas de cabelo crespo cresçam sem o desejo de alisar os seus cabelos. Onde todas as cores sejam reconhecidas como belas, como uma caixa de lápis de cor, em que cada tom tem sua singularidade e beleza.

Onde todos os traços sejam enaltecidos e todas as religiões sejam respeitadas.

Onde as escolas sejam, de fato, lugares de acolhimento, aprendizado e proteção, livres de apelidos e xingamentos que ferem, emudecem e diminuem.

Um mundo sem preconceitos.

Foi com esse ideal que a Secretaria de Educação de Itanhaém realizou, nesta quarta-feira (5), o evento “Negritude e Educação Pública: Desafios, Resistências e Caminhos”, no Teatro Eva Wilma, no Centro de Capacitação do Professor.

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A iniciativa reuniu professores, alunos, gestores e representantes da comunidade para um dia de aprendizado, afeto e reflexão, celebrando a força, a cultura e a beleza da identidade negra dentro e fora das escolas.

Logo na abertura, o público foi envolvido pela emoção da música. O cantor Tata, do projeto N’zila, e a mezzo-soprano Laís Verderame apresentaram uma releitura potente de “Canto das Três Raças”, de Clara Nunes, uma homenagem à resistência e à ancestralidade do povo negro.

Enquanto a música ecoava pelo teatro, o telão exibia imagens de personalidades negras que transformaram o mundo, inspirando novas gerações e reforçando o poder da representatividade. Era um convite para olhar com orgulho para a própria história, para a própria cor e para o próprio reflexo.

A condução do encontro ficou por conta da professora Vanessa Oliveira, coordenadora da Comissão de Educação Antirracista da Rede Municipal. Em sua fala, ela destacou: “Hoje é um dia de refletir e reafirmar o orgulho de ser quem somos. A consciência não cabe em um único dia, ela está em cada ato de respeito, em cada palavra que escolhemos usar.”

O evento foi inteiramente elaborado e protagonizado por educadores negros, que vivenciam, em suas trajetórias, os desafios e resistências que motivaram o encontro. “Falar sobre o racismo, a justiça e a esperança através da arte é um ato de transformação. A escola pública é um território onde se constrói um país mais justo e mais bonito”, completou Vanessa.

As palestras trouxeram temas profundos e necessários. O professor Henrique dos Santos Pessoa apresentou “Entre Correntes e Cadernos: o Negro e o Acesso ao Saber”, destacando o longo caminho percorrido pelo povo negro em busca da educação formal. Em seguida, falou sobre “Linguagem e Termos Racistas”, chamando atenção para o poder das palavras, que podem perpetuar ou desconstruir preconceitos. “Na Alemanha, existe um museu para lembrar o que nunca mais pode existir: o preconceito. O Brasil também precisa lembrar, reconhecer e reparar”, disse Henrique.

A professora Rosana Machado, da Casa da Cultura do Suarão, abordou o tema “Racismo Cotidiano e Microviolências”, com um olhar sensível sobre as dores que começam lá na infância: “Quando uma criança negra é chamada de ‘cabelo duro’ e o adulto diz que é brincadeira, isso deixa marcas profundas. É preciso letramento racial para que professores e funcionários saibam acolher, proteger e combater o racismo dentro das escolas.”

Já a professora Aline Lopes, doutoranda pela USP, falou sobre “Racismo, Vida Escolar e Autoconfiança”, refletindo sobre o impacto do preconceito no desenvolvimento dos estudantes. “O preconceito racial faz com que as pessoas negras recebam sempre menos, menos atenção, menos valor. É preciso reconhecer e enaltecer a inteligência e a capacidade que nossos estudantes negros têm de aprender, sonhar e alcançar grandes conquistas.”

Durante a programação, a estudante Manuela Império, da Escola Bernardino, emocionou o público ao recitar o poema “Mãe”, de Conceição Evaristo, reforçando o protagonismo da juventude na luta por igualdade.

O secretário de Educação, Hugo Di Lallo, elogiou a iniciativa e parabenizou os professores Vanessa Oliveira e Henrique Pessoa pela condução do evento: “A importância maior deste encontro é que ele foi totalmente pensado e organizado por dois professores negros, que estudaram na rede pública e vivenciaram o preconceito de fato. Eles transformaram suas vivências em aprendizado e inspiração para toda a rede.”

O prefeito Tiago Cervantes reforçou a mensagem de empatia e transformação: “Que todos saiam daqui mais conscientes, com atitudes que façam a diferença no dia a dia. Que possamos construir juntos um mundo mais igualitário, saindo daqui hoje melhores do que chegamos.”

O evento “Negritude e Educação Pública” tem o objetivo de falar abertamente sobre o preconceito, a igualdade racial e a valorização da diversidade, um chamado à continuidade dessa luta, que acontece todos os dias, nas salas de aula, nas conversas e nas atitudes.

Porque a verdadeira educação não apenas ensina, ela transforma. E transformar é saber que todas as cores, vozes e histórias importam.